O Ministério da Saúde deu início a uma ampla campanha com o objetivo de retomar os altos índices de cobertura vacinal no país. A iniciativa foi marcada pelo começo da aplicação das vacinas bivalentes contra a Covid-19 como estratégia de reforço para grupos prioritários.
Os imunizantes atualizados contam em sua composição com a cepa original e subvariantes da Ômicron.
Em um primeiro momento, a vacinação será com doses bivalentes será disponibilizada para pessoas com maior risco de desenvolver formas graves da doença, como idosos acima de 70 anos, pessoas imunocomprometidas, funcionários e pessoas que vivem em instituições permanentes, indígenas, ribeirinhos e quilombolas.
De acordo com o ministério, o esquema vacinal para esses grupos prioritários será de uma dose da vacina da Covid-19 bivalente da Pfizer para pessoas a partir de 12 anos de idade que apresentarem, pelo menos, o esquema primário completo de duas doses com vacinas monovalentes, respeitando o intervalo mínimo de 4 meses da última dose recebida.
Diante da expansão da aplicação do reforço contra o coronavírus é comum que apareçam dúvidas sobre a necessidade de doses adicionais. Confira abaixo porque cada pessoa desses grupos prioritários deve se vacinar com a dose de reforço bivalente.
O envelhecimento é um fator de risco significativo para doença grave e óbito por Covid-19. O avanço da idade traz diferentes impactos para o organismo humano, incluindo a capacidade de funcionamento do sistema imunológico. Com o passar dos anos, a função imunológica, que protege o organismo contra infecções, começa a apresentar queda, torna-se menos eficaz e isso tem relação com a idade.
O processo de envelhecimento afeta os diferentes tipos de imunidade, devido a um fenômeno chamado imunossenescência, definido como a desregulação da função imunológica nos idosos. Além da redução da resposta vacinal, a imunossenescência contribui para o aumento da suscetibilidade a infecções, desenvolvimento de câncer e doenças autoimunes.
De acordo com um relatório produzido pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), com base no perfil dos casos hospitalizados ou óbitos por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) por Covid-19 no Brasil, notificados até agosto de 2020, há maior risco para óbito a partir de 55 anos, sendo que a partir de 60 anos o risco, tanto para hospitalização quanto para óbito por Covid-19, foi duas vezes maior quando comparado à totalidade dos casos. Esse risco chegou a 8,5 para hospitalização e 18,3 para óbito entre idosos com 90 anos e mais.
Pessoas que vivem em instituições de longa permanência, de um modo geral, têm um acúmulo de doenças crônicas, aumentando o risco de complicações e mortes por Covid-19.
As doenças infecciosas em grupos que permanecem em ambientes fechados podem se espalhar mais rapidamente.
A imunidade gerada pelas vacinas tende a diminuir com o passar do tempo, entre seis e oito meses após a aplicação das duas doses iniciais. Para resgatar a prevenção contra o agravamento e a morte pela infecção causada pelo coronavírus, há um consenso sobre a importância da aplicação de doses de reforço.
Os profissionais de saúde foram um dos primeiros grupos vacinados contra a doença, devido à maior exposição ao vírus. Fatores como maior risco de adoecimento, licença do trabalho e complicações destacam a necessidade de priorizar a vacinação desses profissionais.
Pessoas imunocomprometidas são aquelas cujos mecanismos de defesa, associados ao sistema imunológico, estão comprometidos. A condição é comum em pessoas:
O médico infectologista Álvaro Furtado, do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP), explica que os imunossuprimidos apresentam um sistema imunológico mais frágil em comparação com a população em geral.
“Essas pessoas têm um déficit na resposta imune nos compartimentos que geram memória e produção de anticorpos”, diz.
Segundo o especialista, as doses adicionais e de reforço têm como objetivo garantir a proteção contra a doença que, para a população que não apresenta nenhum grau de imunossupressão, pode ser atingida com um número menor de doses.
“As pessoas imunossuprimidas tomam a vacina e, com o tempo, a resposta imunológica delas vai diminuindo. Eles ficam suscetíveis a entrar em contato com o vírus que não tem variações genéticas ou variantes e ter a doença novamente. As doses adicionais fazem um reforço do sistema imunológico”, diz.
A infecção pela Covid-19 em gestantes e puérperas está associada a aumentos na morbidade e mortalidade materna quando comparados à Covid-19 em mulheres não grávidas. A vacinação contra o coronavírus durante a gravidez e puerpério tem sido recomendada amplamente para prevenir doenças graves e mortes nesta população.
Além disso, os bebês têm risco de complicações associadas à doença, incluindo insuficiência respiratória e outras complicações graves. Logo, a transferência de anticorpos maternos para o feto é um benefício adicional da vacinação de gestantes.
No Brasil, populações indígenas convivem, no geral, com elevada carga de morbimortalidade, com o acúmulo de comorbidades infecciosas, carências ligadas à contaminação ambiental, assim como doenças crônicas, aumentando o risco de complicações e mortes por Covid-19.
De acordo com o Ministério da Saúde, doenças infecciosas nesses grupos tendem a se espalhar rapidamente e atingir grande parte da população.
Da mesma forma estão as populações ribeirinhas e quilombolas, que tendem a apresentar uma transmissão do vírus mais intensa, considerando vários aspectos de vulnerabilidade existentes.
Há o entendimento que pessoas com deficiência permanente fazem parte de um grupo populacional que têm diversas barreiras para adesão a medidas não farmacológicas, como uso de máscaras e limitação de acesso aos tratamentos disponíveis.
A população privada de liberdade e adolescentes cumprindo medidas socioeducativas são suscetíveis a doenças infectocontagiosas, como demonstrado pela prevalência aumentada de infecções transmissíveis nesse grupo em relação à população em liberdade.
A dificuldade de adoção de medidas não farmacológicas efetivas nos estabelecimentos torna esse grupo propenso para ocorrência de surtos.
Estudos mostram que doses de reforço ampliam a resposta imunológica e aumentam em mais de cinco vezes a proteção contra casos graves e óbitos pelo coronavírus.
A definição sobre os públicos elegíveis para receber doses de reforço é feita pelo Ministério da Saúde, a partir da recomendação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O público apto a receber doses de reforço tem sido ampliado ao longo da pandemia de acordo com novas evidências científicas que sugerem o benefício das aplicações adicionais.
De acordo com o ministério, as recomendações foram feitas a partir de pesquisas que demonstram que a capacidade de gerar resposta imune, chamada imunogenicidade, após aplicação de doses de reforço heterólogas, com combinação diferente de vacinas contra a Covid-19, foi adequada e superior a esquemas sem doses de reforço.
Uma pesquisa da Escola de Medicina da Universidade da Virgínia, nos Estados Unidos, destaca os benefícios da dose de reforço contra a doença. As descobertas mostram como os reforços de vacinas de RNA mensageiro, como a da Pfizer e da Moderna, afetam a durabilidade dos anticorpos no organismo.
De acordo com os pesquisadores, um reforço induz anticorpos mais duradouros até mesmo entre aqueles que se recuperaram de uma infecção por Covid-19.
“Esses resultados se encaixam com outros relatórios recentes e indicam que as doses de reforço aumentam a durabilidade dos anticorpos induzidos pela vacina”, disse o pesquisador Jeffrey Wilson, da Divisão de Asma, Alergia e Imunologia da UVA Health.
(CNN)