O deputado estadual Zé Teixeira (PSDB), experiente político de Mato Grosso do Sul, recebeu a Folha de Dourados para conceder uma entrevista exclusiva, onde discorreu sobre o futuro da segunda maior cidade do estado.
Em seu escritório, localizado no centro de Dourados, falou sobre o legado do irmão como prefeito de Dourados, Humberto Teixeira (1993 a 1996), a ida para o PSDB, o futuro da sigla no município e das demandas que seu mandato têm recebido dos douradenses.
Folha de Dourados – Deputado Zé Teixeira, o senhor tem uma história sólida dentro de sua vida partidária, primeiro no PFL, depois no DEM e agora no PSDB. Qual o futuro da executiva municipal do PSDB em Dourados?
Zé Teixeira – É um prazer enorme receber você aqui. Bem eu filiei no PFL, onde eu tive 7 mandatos e eu não saí do PFL, na verdade, o partido se transformou no DEM. Mais recentemente, a fusão do DEM com o PSL deu origem ao partido União Brasil. Em Mato Grosso do Sul, quem iria coordenar o “União” era a senadora Soraya Thronicke e eu não comungo com a forma dela fazer política, porque a política deve ser feita com correção, firmeza e sinceridade o que eu não vejo na senadora e os anos vão provar isso. Ela desbancou Waldemir Moka, Marcelo Miglioli, mas isso tudo por conta do prestígio que o ex-presidente Jair Bolsonaro dedicou a ela na época. Depois da fusão Soraya me ligou, mas ela já era senadora há mais de dois anos e nunca tinha me ligado, então, comuniquei a ela que eu caminharia ao lado da [senadora] Tereza Cristina (PP), que à época era Ministra da Agricultura. Após esse fato, eu falei com o ex-governador Reinaldo Azambuja (PSDB) e ele fez um convite público para que migrasse para o PSDB. Recentemente, em reunião estadual eu explanei aos pares e companheiros de partido que no município de Dourados existem pendências, inclusive administrativas e financeiras. Eu sempre toquei partidos com dignidade, respeito e cuidado e no PSDB não vai ser diferente. Se o presidente municipal Valdenir Machado precisar de mim eu estarei à disposição. Aliás, no ano passado, durante a janela, eu trouxe para o partido vereadores eleitos em Dourados.”
Em Dourados é sabido que o senhor é responsável por colocar muitos nomes na política, filiando novos membros e construindo nomes. Não é novidade que o deputado foi um dos primeiros “tutores” do atual prefeito Alan Guedes (PP), mas que nas últimas eleições municipais apoiou o atual vice-governador Barbosinha (PP). A candidatura de Alan Guedes foi precipitada?
Não, pois na política não tem nada “precipitado”. Na minha visão, quando o Alan Guedes estava no Democratas, houve um episódio e ele se colocou contra os colegas de partido e não achei aquilo correto; o rigor da lei não perpassa na humilhação de pessoas. A eleição do Alan foi uma oportunidade que ele viu e agarrou, mas durante a campanha não houve qualquer reconhecimento pelo grande trabalho do Governo do Estado, afinal, Reinaldo Azambuja, recuperou todas as vias principais de Dourados como Weimar Torres, Hayel Bon Faker e Joaquim Teixeira Alves, projetos que aconteceram quando Murilo Zauith estava à frente da Secretaria de Infraestrutura e olhou para cidade. O Barbosinha era meu candidato, do Reinaldo e do grupo da senadora Tereza. Faltou também conseguir mostrar para o eleitor que Alan Guedes nunca foi um administrador na vida e um município como Dourados precisa de alguém com experiência. E quem tá pagando esse “engano eleitoral” é a própria sociedade. Para eleger um administrador é preciso escolher alguém que tenha noção do que é administrar, afinal, o poder executivo administra o seu dinheiro! Dourados não tem uma saúde decente e, aqui, existe uma Fundação de Saúde que na minha visão, existe para “maquiar o orçamento”, o déficit é muito grande, mas o importante é que o poder alterna e daqui dois anos a sociedade terá uma nova chance.
O senhor já afirmou para a imprensa que, caso o partido queira, deixará seu nome à disposição para disputar a prefeitura de Dourados. Depois de 8 mandatos como deputado, qual o seu propósito?
Eu, antes mesmo de ser deputado estadual, tenho um histórico na minha vida, administrei, trabalhei com grandes empresas, participei da vinda e fui gerente de Frigorífico Dourados, depois, enquanto deputado e 1º secretário da Assembleia Legislativa e ao lado dos meus pares, deixei um legado a olho nu, na casa de leis de Mato Grosso do Sul. Uma revolução administrativa sem aumento de gastos, com economia e otimização de recursos. Então, coloquei meu nome à disposição, mas não sou um candidato “meu”, sou candidato de um projeto. Apoio qualquer projeto que a sociedade sinalizar que tenha mais possibilidade de vencer as eleições. Diz um sábio político, o deputado Londres Machado (PSD), que na política não se pode dizer “que não faz”, mas eu sinceramente não tenho qualquer interesse em apoiar a reeleição do atual prefeito, pois ele tem demonstrado falta de competência administrativa e também a falta de conhecimento para escolher pessoas realmente técnicas para fazer uma gestão a contento da população. Agora, eu não digo que dessa água não bebo, pois se o Governo apoiar Alan eu irei com o governo, mas realmente espero que isso não aconteça.
Como é que deputados e vereadores podem aproximar as pessoas da política para tomar decisões diferentes e que não as prejudique tanto?
Bem, a população tem que entender que quando um político pede voto não deve se pensar que o voto é pessoal, mas devemos olhar se ele carrega um projeto junto com ele. Eu sempre apoiei candidaturas com projetos, nem todos ganharam, mas trago como exemplo a eleição do Murilo (União), depois de perder a primeira eleição e ver um prefeito ser cassado (Ari Artuzi), foi novamente para o pleito eleitoral e ganhou. Murilo Zauith fez uma gestão empresarial, trouxe muitas empresas, empregos e desenvolveu Dourados, ou seja, quando a população votou em um projeto e não em um “figurão”, saiu ganhando, afinal, Murilo não tem qualquer dívida com a justiça, envolvimento com escândalos e pode caminhar tranquilo por Dourados. Inclusive, eu ouço comentários não muito bons da atual gestão. Recentemente, ouvi sobre o valor absurdo pago na ponte da Hayel Bon Faker e também sobre essa “história” de robótica que gastou muito dinheiro, mas que ninguém ouve falar no benefício. Dourados precisa de atenção nas séries iniciais, construir mais escolas e parar de passar a responsabilidade para instituições particulares.
O deputado citou a gestão do ex-prefeito Murilo Zauith. Sabemos que não há qualquer afirmação dele sobre, mas em uma possível candidatura a prefeito de Murilo, o senhor o apoiaria?
Com certeza! O Murilo é uma pessoa que tem uma histórico de vida e que assim como eu, tem uma família sólida. Dona Cecília é um esteio na família e na Unigran, uma mulher sincera, atuante e séria. Tenho conversado com Murilo, mas o fato dele não ter ficado no projeto do Riedel, talvez possa causar um distanciamento do grupo do governo. No entanto, Riedel ainda está desenvolvendo sua capacidade política de articulação e quem sabe, pode confluir. A política causa um certo desconforto em muitas situações, mas o diálogo é sempre o caminho comum.
Sabemos que o senhor colocou seu nome à disposição e que há 30 anos seu irmão Humberto Teixeira era prefeito de Dourados, muito lembrado por ter enfrentado o déficit habitacional da cidade criando os “canaãs”. Qual seria o foco do seu projeto para Dourados se eleito prefeito?
A história do meu irmão é um dos motivos que me comove. A primeira coisa que Humberto pensou foi no ser humano, na casa das pessoas. Quando você tem sua casa própria você tem sua autoestima elevada, pois sua família se resguarda em segurança, além disso, sair do aluguel promove ainda mais potencial econômico para as famílias e desenvolve o comércio local. Humberto tinha um sonho de ser um prefeito que olhava para a dignidade das pessoas, tanto é que o projeto dos canaãs recebeu esse nome bíblico que significa “terra prometida”. Ele prometeu e fez! Entregou casas próprias e terrenos loteados e arborizados, como por exemplo o Canaã III, feito no intuito de proporcionar também aos funcionários e servidores públicos da prefeitura um bairro de convivência familiar daqueles que construíram a cidade enquanto funcionários de Dourados. Além disso, olhou para a cultura e trouxe o Teatro Municipal, o Parque dos Ipês, além de desenvolver e construir projetos e locais voltados ao atendimento da terceira idade. Mas atualmente, caso fosse eleito prefeito eu teria como prioridade, deixar a saúde de Dourados a contento da população, pois é um absurdo que as pessoas precisem mendigar por uma cadeira de fio para esperar horas na UPA por um atendimento. Acabar com o acúmulo de cirurgias eletivas, o que é muito possível com o apoio do governo, além disso, alinhar o repasse que os outros municípios precisam fazer para saúde de Dourados, já que atendemos toda a macrorregião. Arrumar a fundação de Saúde, até porque ela não chegou nesse abismo sozinha, sua ineficiência é responsabilidade do prefeito e em Dourados, parece existir apenas para maquiar o orçamento, praticamente um elefante branco. Em segundo, o foco de investimento seria a Educação, proporcionar a qualificação de professores e construir mais escolas. Por fim, uma cidade limpa de verdade, pois essa história da atual gestão, de multar quem não limpa terreno, mas deixar a cidade um verdadeiro matagal me parece até brincadeira com a cara das pessoas, um programa de humor de mau gosto.
Para finalizar deputado, o senhor sabe que mais políticos da sua sigla pretendem disputar as eleições, como avalia essa disputa interna?
Olha, eu apoiaria qualquer pessoa do meu partido, ou até mesmo fora dele caso seja o rumo da articulação do PSDB, nomes que me garantam um gestor com capacidade e experiência. Falei aqui do Murilo que têm uma grande trajetória e foi um bom gestor, apoiaria também, como já fiz em outra eleição, os nomes de Geraldo Resende (PSDB) e Barbosinha (PP), pois eu sei que eles têm um histórico sólido de trabalho. O Geraldo foi crucial para o enfrentamento da pandemia e sempre olhou com muito carinho para Dourados. No Barbosinha eu também acredito muito, mostrou que é um administrador, quando foi prefeito de Angélica, depois disso na Segurança Pública (Secretaria de Estado) e na presidência da Sanesul deixou seu legado no Estado. Outros candidatos, como Marçal Filho, não têm experiência administrativa para mostrar à população. É um político distinto, muito querido pelas pessoas, mas sua popularidade vem do fato de ser um comunicador e não um gestor. O comunicador consegue levar seu nome com facilidade para a casa das pessoas, mas nem sempre têm experiência.