A pandemia dá sinais de estar controlada, mas isso na prática não impulsionou a intenção de contratações do empresariado, na avaliação do economista da Fundação Getulio Vargas (FGV) Rodolpho Tobler.
Ele fez a observação ao comentar a alta de apenas 0,1 ponto no Indicador Antecedente de Emprego (IAEmp) em outubro ante setembro, para 87,1 pontos, anunciado hoje pela fundação. Um cenário de economia fragilizada tem elevado a cautela, entre os empresários, e inibido intenção de abertura de novas vagas, pontuou o especialista.
Na prática, observou ele, o empresariado não se sente confortável em contratar mais, com o ambiente atual e perspectiva para os próximos meses de inflação em alta, renda fraca, consumo em baixa e possibilidade de piora de quadro macroeconômico de 2022, comentou ele.
"Esse resultado do IAEmp é um sinal de alerta para o mercado de trabalho", resumiu Tobler.
O especialista comentou que, há alguns meses, havia o sentimento de que, quando a pandemia começasse a apresentar sinais de melhora, a atividade poderia reagir de forma mais robusta. Isso porque, com quadro sanitário mais favorável, seria possível flexibilização de restrições de circulação social, com impacto favorável na demanda interna e, por consequência, em atividades muito prejudicadas com a pandemia, como serviços, por exemplo.
Mas, agora, com bons números no quadro sanitário relacionado à Covid-19, com quedas nas mortes e de casos da doença, não é o que está acontecendo, admitiu.
"Temos mostrado cenário macroeconômico cada vez mais frágil, com mais sinais de desaceleração na atividade econômica", alertou. "A inflação não está cedendo, e temos incerteza em questões fiscais", disse, ao comentar que um ambiente cheio de dúvidas normalmente faz o empresário colocar o "pé no freio" nas contratações.
Outro aspecto mencionado por ele é o fato de que a demanda interna não dá indícios de uma recuperação robusta — e ainda é prejudicada pela inflação elevada. "As pessoas até têm conseguido entrar no mercado de trabalho, mas com renda cada vez mais baixa e inflação cada vez mais alta", disse ao notar que a atividade "não parece" que deve mostrar recuperação forte nos próximos meses.
Esses fatores afetam a decisão de contratação e, por consequência, a evolução do IAEmp, observou o especialista. Ele comentou que o indicador provavelmente não deve voltar ao nível pré-pandemia (92 pontos em fevereiro de 2020) até o fim do ano. "Acho difícil. A não ser que [a atividade de] serviços surpreenda muito positivamente [até o fim do ano]", disse.