O anúncio de que a Ambev aplicará um aumento no preço das cervejas neste mês de outubro causou comoção pública nesta semana, em destaque nas redes sociais.
A indústria brasileira como um todo sofre com o aumento dos preços de insumos por conta da desvalorização do real desde o ano passado. Ainda assim, a empresa reportou lucro líquido de R$ 2,93 bilhões no segundo trimestre, alta de 130,4% em relação ao mesmo período do ano anterior.
As vendas não vão mal. Exclusivamente no segmento Cerveja Brasil — já que a Ambev vende também produtos não alcoólicos — houve crescimento orgânico de 12,7% nos volumes, para 20,2 milhões de hectolitros no trimestre e expansão de 25,8% na receita líquida, para R$ 6,4 bilhões.
Abaixo, entenda alguns dos números que fazem entender a decisão de reajustar os preços.
A cerveja não é exclusividade quando o assunto é aumento de preços no Brasil. Mas os números não assustam tanto quanto os atuais vilões da inflação, como combustíveis, energia e alimentos.
A empresa não anunciou oficialmente de quanto será esse reajuste, mas a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) estima que a alta seja próxima à inflação oficial do país, de até 10%.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a inflação da cerveja em 12 meses é um pouco menor que a média do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).
Enquanto a média geral está em 9,68% em 12 meses, a cerveja teve alta de 7,62%. Quando considerada no subtópico Alimentação fora do domicílio, é ainda menor: 5,94%.
A Abrasel afirma estar preocupada com o aumento de preço das cervejas porque o reajuste será repassado “imediatamente” ao consumidor. A entidade afirma que 37% dos bares e restaurantes do país ainda operam no prejuízo, o que tira a capacidade de amortecer um aumento de preço.
Estado mais numeroso, São Paulo ainda tem metade de seus bares operando no vermelho, afirma a Abrasel.
“O setor está hiper pressionado por aumento de custos na luz, no aluguel, nos alimentos, no combustível, que afeta o delivery, por exemplo. Não suporta novo aumento sem repassar para o consumidor”, afirma Paulo Solmucci, presidente da Abrasel.
O g1 procurou também a Associação Brasileira de Supermercados (Abras), outro foco de vendas de cervejas no país, mas a entidade não tem números específicos para o setor.
O aumento de preço capitaneado pela Ambev é tão sintomático porque a empresa é — por muito — a líder de mercado. Marcas como Brahma, Antártica, Corona, Stella Artois e muitas outras fazem parte do portfólio da empresa.
Segundo a provedora de dados de mercado Euromonitor International, a empresa ocupa mais de 60% do mercado, seguida da Heineken e da Cervejaria Petrópolis. Veja abaixo a distribuição, em números do fechamento de 2020:
Segundo a Abrasel, qualquer movimentação da Ambev abre espaço para que as concorrentes também façam reajustes de tamanho parecido. Nenhuma das empresas, contudo, sinalizou que aumentará os preços por agora.
A visão da entidade, porém, tem fundamento já que uma das estratégias das concorrentes da Ambev para ganhar mercado foi, ao longo de anos, diminuir as margens de lucro de seus produtos para manter preços mais baixos que as cervejas de mesma categoria da cesta da líder de mercado.
Ainda segundo a Euromonitor International, o consumo de cerveja no Brasil vinha em marcha lenta no passado recente. Em comparativo de 2015 e 2020, o mercado vendeu apenas 0,7% a mais entre um ano e outro.
Em litros, o aumento foi de apenas 13,2 bilhões para 13,3 bilhões em cada ano.
Para os próximos cinco anos, contudo, há mais otimismo na projeção da consultoria. Espera-se que a venda suba para 14,7 bilhões de litros — ou 10% a mais.