A variante delta do coronavírus já é considerada predominante em ao menos mais quatro países além da Índia, onde ela foi descoberta: Reino Unido, Israel, México e Bélgica.
Nos Estados Unidos, já há estimativas de que ela seja a responsável pelo maior número de casos. A delta foi identificada no Brasil há cerca de um mês e provocou duas mortes. Nesta semana, ela foi identificada pela 1ª vez em um paciente da cidade de São Paulo.
A cientista-chefe da Organização Mundial da Saúde (OMS), Soumya Swaminathan, alertou no mês passado que a variante delta tem se tornado a cepa dominante em todo o mundo. Segundo ela, o alto ritmo de transmissão desta variante identificada tinha um papel importante na sua predominância, mas que as vacinas continuavam eficazes no combate ao vírus.
E como fica o Brasil? Veja as perspectivas em três tópicos:
1 - Total de vacinados e vulneráveis: Com ritmo lento de vacinação, o país tem 37% da sua população vacinada com a 1ª dose. O número fica em 13% quando se avalia a parcela da população que foi completamente imunizada.
Para tentar agilizar o processo, o Acre e algumas capitais, como Recife, Goiânia e Fortaleza, estão adiantando a aplicação da segunda dose da AstraZeneca. Anteriormente, o prazo estabelecido entre uma aplicação e outra do imunizante era de 90 dias. Com a mudança nessas regiões, o intervalo caiu para pelo menos 60 dias.
A chefe do programa de emergências da OMS, Maria van Kerkhove, explicou que as vacinas são eficazes contra casos graves da delta – se as duas doses forem aplicadas.
Isso quer dizer que mais de 70% da população adulta do país ainda segue vulnerável a esta variante – e mesmo quem já foi vacinado, pode ainda carregar o vírus.
Além disso, um estudo recente do governo inglês apontou que população jovem não vacinada e pessoas acima dos 50 anos que não receberam a 2ª dose são as que mais correm risco de se infectar. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), o Brasil tem ao menos 47 milhões de jovens – de 15 a 29 anos – que ainda estão longe de poder se vacinar.
2 - Momento diferente da Índia: Ester Sabino, imunologista e pesquisadora do Instituto de Medicina Tropical da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), avalia que a situação do Brasil no momento é diferente da que a Índia encontrou quando surgiu a delta. Segundo ela, acabamos de passar por um pico da doença, o que pode contribuir para menos infecções da nova variante.
“Quando a Delta começou na Índia era mais ou menos como estava Manaus, em uma fase de perda de anticorpos depois de 7 meses com o vírus em baixa. Então, as pessoas vão perdendo a imunidade (adquirida após a doença) com o tempo. Aqui, agora, as pessoas acabaram de se infectar e muita gente se infectou. Ela [delta] está chegando num momento em que a pandemia está alta”, explicou Ester Sabino. “A gente ainda não sabe quanto tempo dura a imunidade, mas existe, sim, uma imunidade gerada, a pessoa não se reinfecta rapidamente”, completou.Camila Malta Romano, pesquisadora do Hospital das Clinicas da Faculdade de Medicina da USP e do Instituto de Medicina Tropical de São Paulo, tem uma opinião parecida com a de Sabino e também acredita que vivemos um contexto epidemiológico diferente da Índia diante da nova variante.
"Agora, os países, nem tanto o Brasil, estão aumentando o número de pessoas vacinadas e completamente imunizadas. A depender da rapidez que a delta começar a se espalhar por aqui, eu acredito que talvez a gente não enfrente uma nova onda muito severa", avalia.
"A gente pode ter um quadro da variante delta mais brando do que teria se não tivesse a vacinação", analisa Camila.
Apesar disso, ela afirma que a vacina sozinha não será suficiente. Ambas as pesquisadoras afirmam que os mais vulneráveis serão os brasileiros que ainda não completaram o ciclo vacinal e/ou não foram infectados pelo coronavírus anteriormente. Por isso é urgente manter as regras de distanciamento e o uso de máscaras eficazes e bem ajustadas.
3 - Disputa com a variante gama: ainda é cedo, segundo Sabino, para dizer se a delta poderá passar a dominar o país no lugar da variante gama, antes chamada de P.1. Estudo europeu com pesquisadores da Organização Mundial da Saúde e do Imperial College London apontam que, em comparação com a variante original do coronavírus, a gama é cerca de 50% mais transmissível. Já a delta, é 100% mais.
“É cedo para falar se a delta vai passar a P.1., mas tem sim a possibilidade. Em todas as regiões que a P.1. chegou antes, a delta acabou pegando e expandindo mais rápido que a P.1.. Mas aqui no Brasil é um pouco diferente porque a P.1. está muito alastrada. Por isso, pode ser que ela não tenha uma expansão tão grande, mas é difícil hoje falar, a gente vai saber daqui a algumas semanas”, resume Sabino.