No ano passado, Mato Grosso do Sul registrou 46 mortes por acidentes de trabalho, aumento de 39% em relação a 2019, quando foram notificados 33 óbitos. As profissões com mais registros foram: caminhoneiro (13), alimentador de linha de produção (3), trabalhador agropecuário (3) e tratorista agrícola (2) – o que corresponde a quase metade dos acidentes fatais de 2020.
Em compensação, o número de acidentes diminuiu 10%. Em 2020, foram 7.052 casos contra 7.854 no ano anterior. Nessa estatística também entram os afastamentos por doenças ocupacionais, que são classificadas como acidentes de trabalho. As doenças aumentaram 98%, saltando de 130 casos, em 2019, para 327, em 2020. As informações são do Sistema para Consulta Online de Dados da Comunicação de Acidente de Trabalho (CONCAT), que permite o acesso ao banco de dados da Previdência Social.
O juiz do trabalho Marcio Alexandre da Silva, Gestor Regional do Programa Nacional de Prevenção de Acidentes de Trabalho da Justiça do Trabalho, afirma que a prática do home office pode ter contribuído para a queda na redução dos acidentes, juntamente com o aumento das demissões e suspensões de contratos de trabalho. Já o aumento das mortes demonstra a gravidade dos acidentes, mas não está relacionado com a pandemia de coronavírus. O juiz esclarece que embora seja possível caracterizar os óbitos por Covid-19 como acidentes de trabalho, na prática, dificilmente há notificações por causa da doença.
Já a procuradora do trabalho Claudia Noriler explica que os dados podem ser ainda mais preocupantes. “O número de subnotificações é alto, porque apenas recentemente o Ministério da Economia esposou um entendimento sobre quais são os casos em que se é necessária a emissão de CAT em razão de adoecimento do trabalhador por coronavírus, então, com certeza, vai haver um número de subnotificação em relação aos casos de coronavírus e afastamento do trabalho”.
Linha de frente
Outro reflexo da pandemia nos acidentes de trabalho envolve os profissionais da saúde. Em 2020, a categoria com mais acidentes foi a de técnicos de enfermagem, com 543 casos, 32% a mais do que em 2019, quando figurava na segunda posição da lista, com 412 notificações. O ranking das 20 profissões que mais acidentaram no ano passado em Mato Grosso do Sul traz os enfermeiros em sétimo lugar, com 178 acidentes, sendo que no ano anterior eles apareciam na 22ª posição, com 84 notificações, um aumento de 111%.
“Esses dados são ocasionados devido ao enfrentamento da Covid-19, que culminou primeiramente na contaminação de muitos profissionais que contraíram o vírus. Também, na sobrecarga de trabalho de todos profissionais da enfermagem, principalmente pelo aumento de pacientes com graves problemas de saúde, gerados pela pandemia. Além, disso, no Estado, devido à falta de mão-de-obra e necessidade emergencial da contratação de mais profissionais para combater o inimigo invisível, muitos enfermeiros e técnicos assumiram novas jornadas de trabalho e passaram a trabalhar mais. Tudo isso gera esse resultado de aumento nos acidentes de trabalho seja pelo aumento de atendimentos, estresse, cansaço e até mesmo problemas psicológicos diante dessa realidade”, afirma o Presidente do Sindicato dos Trabalhadores na Área de Enfermagem de Mato Grosso do Sul - SIEMS, Lázaro Santana.
Abril Verde
Para promover a conscientização da prevenção de acidentes de trabalho, todos os anos é realizado o Movimento Abril Verde, mês de conscientização da saúde e segurança no trabalho. Em Mato Grosso do Sul, as fachadas de algumas instituições receberam a iluminação na cor verde para chamar a atenção da população. É o caso do Fórum Trabalhista de Campo Grande, da Prefeitura Municipal de Três Lagoas e da Câmara Municipal de Dourados, além da torre da TV Morena, na Capital.
O Grupo CCR também aderiu à iniciativa colocando mensagens de conscientização em painéis eletrônicos nas rodovias do Estado.
Transtornos mentais
Este ano, a Justiça do Trabalho brasileira realiza, durante o Abril Verde, a campanha "Em conjunto - A construção do trabalho seguro depende de todos nós", voltada para a construção de um trabalho seguro e decente em tempos de crise.
A campanha leva em conta as mudanças no contexto de trabalho ocasionadas pelo coronavírus e os impactos na saúde mental dos trabalhadores em função do aumento das demissões, crise financeira, home office, medo pelo contágio da doença, perda de entes queridos, sentimento de solidão e isolamento.
De acordo com dados do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), a concessão de auxílio-doença e aposentadoria por invalidez devido a transtornos mentais em 2020 aumentou em 20,6% em relação ao ano anterior. Foram 291,3 mil concessões no ano passado, contra 241,4 mil em 2019, no país.