A Covid-19 é uma doença que aparece em vários níveis de gravidade e tem apresentado sequelas pós recuperação em pacientes que hoje convivem com algumas limitações. Tudo ainda é muito novo sobre o vírus, mas especialistas já apontam que algumas sequelas podem demorar meses para serem superadas. Outras até mesmo precisam de acompanhamento médico ou fisioterapia.
O Dourados News falou com alguns douradenses que tiveram diagnóstico positivo da Covid-19 e hoje lidam com algumas dificuldades e limitações.
Rita de Cássia Costa, 33, pegou Covid no final do ano passado. Ela contou que inicialmente não teve sintomas mais pesados e achou que estava com um leve resfriado. Rita trabalha com revenda de perfumes importados. Hoje, precisa lidar com o fato de que não sente cheiros, o que é a sua principal ferramenta de trabalho para a venda das fragrâncias.
“Depois de alguns dias percebi que não estava sentindo cheiro de nada. Então fui atender uma cliente e ela pediu para eu ajudar a sentir o perfume, aí eu não consegui. Na época, uma amiga tinha confirmado diagnóstico da Covid e eu tinha tido contato com ela, aí me dei conta que estava também”.
Rita conta que desde então, teve que improvisar para poder vender seus perfumes.
“Tenho umas clientes que já sabem o que querem, mas quando eu tenho que atender uma cliente nova, dificulta muito. Se é um perfume que eu não conheço, eu leio sobre ele para poder explicar ao cliente, mas com certeza não é a mesma coisa”.
Além da falta de olfato, o paladar também foi prejudicado. Rita pegou ‘nojo’ de comer carne.
“Não consigo comer nem carne vermelha, nem frango, fica um gosto que amarga minha boca, não sei nem explicar. É um cheiro e gosto estranho. Horrível. Acabo comendo, mas é uma coisa que eu não tenho apreço nenhum mais. Não tenho a mínima vontade”, explicou.
“PENSEI QUE PODERIA FICAR CEGO, NÃO ENXERGAVA NADA”
O assessor parlamentar Edilberto Martinez Lopez, 49, também pegou Covid no fim de 2020. Passou as festas de Natal e Ano Novo de quarentena. Praticante de tênis, ele jogava quatro vezes por semana. Após se recuperar, voltou a jogar gradativamente e percebeu que não estava enxergando bem no olho direito.
“Estava jogando e olhei para uma luz e quando abri os olhos começou a incomodar na hora. A vista ficou embaçada e comecei a ver uma mancha como se fosse um vulto no olho. Procurei o médico oftalmologista e ele disse que já tinha atendido algumas pessoas que estavam com esse tipo de sintoma, que era o quarto ou quinto caso com essas características, então acreditava que poderia estar associado ao vírus, mas está sendo estudado. Tive um começo de descolamento de retina. Criou-se um embaçado no meu olho que os médicos chamam de moscas volantes”.
Lopez explicou que enxergava somente pelas laterais dos olhos, mas de frente não conseguia ver nada.
Ele é casado e tem dois filhos. Todos pegaram Covid, mas somente ele apresentou esse problema na visão após a recuperação. Os únicos sintomas em comum eram cansaço excessivo e falta de ar. Atualmente, ele faz tratamento com remédio via oral, mas não está descartada a possibilidade de uma cirurgia.
“Voltei no médico e deu uma melhorada boa, mas corre o risco sim de ter que fazer uma pequena cirurgia para ter que corrigir isso. Estou tranquilo, mas não deixa de ser um incômodo do dia a dia. Fiquei com medo, pensei que poderia ficar cego sim, porque no meu olho direito eu não enxergava nada”.
“EU COZINHEI E QUASE COMI CARNE PODRE”
Edna Maria Brasileiro Mantarraia, 55, é cuidadora de idosos. Ela contraiu Covid do marido, Amancio Mantarraia, 60, que teve que ser internado para uma cirurgia cardíaca e precisou de acompanhante na UTI. Durante a recuperação, ele acabou contaminado na unidade de saúde e transmitiu para a esposa.
“Foi um momento bem difícil para a família porque já estávamos lidando com a situação delicada dele e aí acabamos pegando Covid. Foi bem apavorante. Depois que ele teve alta, comecei a perceber que meu paladar e olfato não estavam normais e já estou faz um bom tempo assim”.
Edna contou ao Dourados News que em um determinado dia quase serviu e comeu carne podre com a família, porque não sentia cheiro nenhum.
“Tirei uma carne do freezer e como estava congelada, resolvi fazer carne de panela. Coloquei todos os temperos que sempre uso e quando minha filha chegou na casa sentiu um mau cheiro muito forte. Então destampei a panela e ela fez ânsia de vômito. Aí percebi que era a carne. Se ela não tivesse chegado, íamos comer carne podre”.
Ela conta que não faz nenhum tratamento de reabilitação e que bem aos poucos o paladar está voltando.
Edna está participando de um estudo da Fiocruz (Fundação Osvaldo Cruz) realizado com um grupo selecionado de pessoas em Dourados que tiveram Covid.
A pesquisa seria sobre a evolução desses pacientes após a alta médica com relação a novo contágio, produção de anticorpos e inclusive possíveis sequelas.
“É incômodo no nosso dia a dia, eu gosto muito de cozinhar, mas acredito que vou recuperar. Importante é não ser nada mais grave né, como a gente vê com outras pessoas”.