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Rio Paraguai registra menor nível em 124 anos e está em situação de alerta

Publicada em 10/10/24 às 14:59h - 53 visualizações

por Folha de Dourados


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 (Foto: Campo Grande News/WWF/Silas Ismael)

O Rio Paraguai, principal bacia do Pantanal, enfrenta a maior seca já registrada e nesta terça-feira (9) atingiu o menor nível em 124 anos. Conforme o Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul (Imasul), o nível da água chegou aos 62 centímetros negativos no município de Ladário. Os dados são monitorados pela Agência Nacional de Águas (ANAS), que faz medições automáticas a cada 15 minutos.

O órgão ambiental estadual emitiu alerta devido à situação e informou que o rio Paraguai vem apresentando queda diária de 1 a 2 centímetros. Boletim do Imasul indica que o nível mínimo para o mês de outubro é de 1,10 metros.

Especialistas e entidades ligadas à preservação ambiental têm se preocupado com o cenário e defendem que seja feita avaliação do contexto em que se insere o rio Paraguai, considerando que o Pantanal é uma conjunção de rios.

“O que temos que fazer é olhar para a natureza, garantir que nascentes fiquem protegidas, que a cobertura vegetal esteja presente no solo. Se estamos em um período de extremos, as ações precisam ser emergenciais”, enfatiza o biólogo Sérgio Barreto, coordenador do programa Cabeceiras do Pantanal, do Instituto Homem Pantaneiro (IHP).

Cota zero

Embora o nível de água esteja abaixo da cota referencial, denominada “cota zero”, o rio Paraguai não está completamente seco, explica o Imasul. “A cota zero é uma referência histórica que marca um ponto crítico de profundidade. Quando o nível fica abaixo desse ponto, o rio ainda possui profundidades variadas ao longo do seu curso”, diz texto publicado pelo órgão.

A régua que faz a medição do nível da água do rio Paraguai em Ladário foi instalada no ano de 1900 e as piores secas ocorreram em 1964 e 2020, com nível de -0,61 e -0,60, respectivamente.

De acordo com o pesquisador da Embrapa Pantanal, Carlos Padovani, a seca mais antiga já ocorrida no bioma, na década de 1960, durou onze anos.

“Estamos no sexto ano de seca. Não existe uma previsão segura para nos basearmos para saber quando vai terminar essa estiagem. É possível que ela seja tão longa quanto a da década de 60”, comenta.

Para Carlos Padovani, pesquisador da Embrapa Pantanal, lençol freático e Aquífero Guarani têm mantido bacia do Alto Paraguai. — Foto: Reprodução/TV Morena
Para Carlos Padovani, pesquisador da Embrapa Pantanal, lençol freático e Aquífero Guarani têm mantido bacia do Alto Paraguai. — Foto: Reprodução/TV Morena

Ainda segundo Padovani, a diferença entre a seca atual e a registrada nos anos 60 é a de que a cobertura vegetal do Pantanal ainda era original, característica que tem influências no clima. “Quando você tira a cobertura vegetal original, a resposta da superfície da terra é diferente em relação à atmosfera. Então, a diferença seria mais causada pelo fator humano tanto de uso da terra, de desmatamento, quanto poluição da atmosfera por gases do efeito estufa”, afirma.

Somente em 2024, os incêndios no Pantanal destruíram mais de 2 milhões de hectares do bioma, o que representa 13% da área total, conforme apontam dados do Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (LASA-UFRJ). A área é equivalente a do estado de Sergipe (2 milhões de hectares).

Impactos às populações tradicionais

Ribeirinhos sentem impacto da seca do Rio Paraguai em Corumbá. — Foto: Reprodução/TV Morena
Ribeirinhos sentem impacto da seca do Rio Paraguai em Corumbá. — Foto: Reprodução/TV Morena

A região do Pantanal é marcada pela presença de populações que dependem do rio para subsistência e transporte, como é o caso dos ribeirinhos. Com a seca extrema, moradores de áreas localizadas às margens do rio Paraguai sentem os reflexos em suas rotinas.“Quanto mais vai secando, mais lama. Meu carro está afundando, preciso descarregar e tirar ele daí”, conta Nenê Campos, morador de Corumbá, cidade vizinha a Ladário.

Desde jovem, o ribeirinho vai à cidade, onde abastece seu barco, retornando com os mantimentos até sua casa, localizada às margens do rio Paraguai.

Pescador há 30 anos, Éder Conceição relata nunca ter visto seca no Pantanal como a registrada neste ano e lamenta o ocorrido.

“Cada vez está secando mais ainda, não sei o que está acontecendo com a natureza. Um dia acho que isso tudo vai acabar”.

Quatro países

O Rio Paraguai é a principal bacia do Pantanal brasileiro e percorre, também, Bolívia, Paraguai e Argentina, totalizando 2.695 Km de extensão. Desse total, 1.693 Km estão no território brasileiro, onde

Além disso, é considerado o oitavo maior rio da América do Sul e, no Brasil, 48% de sua extensão está localizada em Mato Grosso e 52%, em Mato Grosso do Sul.

É o principal rio do Pantanal, e tem registrado níveis baixíssimos desde o início de 2024 — em julho registrou o menor nível em quase 60 anos. O rio abrange 48% no estado do Mato Grosso e 52% do Mato Grosso do Sul e atravessa os biomas Cerrado, Pantanal e também o Chaco, considerado bioma paraguaio semelhante ao Pantanal.

Incêndios

Além da seca, o bioma enfrenta o problema dos incêndios florestais que só este ano já devastaram 12,7% de área do bioma (tanto em MS quanto em MT), segundo o Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Lasa-UFRJ). A temporada do fogo este ano começou mais cedo e de forma mais severa em razão das mudanças climáticas.




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