No último domingo (1º), militares do Corpo de Bombeiros registram o momento em que combatiam fogo de turfa – uma espécie de chama subterrânea, considerada um dos incêndios florestais mais complexos na hora do controle. No vídeo é possível ver a fumaça saindo do solo incessantemente.
O fenômeno raro foi registrado a 150 km de Aquidauana, entre Taboco e Corguinho. De acordo com o Corpo de Bombeiros, equipes trabalham no combate às chamas que atingem fazendas da região.
Para evitar uma reignição e propagação de fogo e faísca, os militares passaram uma grade de ferro para tentar ‘amolecer’ a terra que está por cima da matéria orgânica, onde o fogo de turfa queima e jogam água com caminhão-tanque para resfriar a região. Ao todo foram queimados 600 hectares de mata.
O fogo consome o Pantanal há mais de três meses. Mais 2,5 milhões de hectares foram destruídos pelas chamas, o que deixa um rastro de devastação ambiental e morte de animais. Para se ter uma dimensão, a área completamente destruída representa quase 17% de todo o território pantaneiro no Brasil.
A turfa é um tipo de material orgânico resultante da decomposição da vegetação que se acumula no solo e pode alcançar vários metros de profundidade, tornando-se altamente inflamável. Essa matéria orgânica possui várias camadas sob o solo do Pantanal.
O biólogo e diretor de comunicação da ONG SOS Pantanal, Gustavo Figueirôa, explica que devido aos períodos de cheia e seca, o Pantanal acaba acumulando camadas de matéria orgânica que concentra uma espécie de fogo subterrâneo.
“O que acontece, durante os períodos de secas e cheias nas estações da região, vão se criando camadas de matéria orgânica no solo. Imagina toda essa matéria acumulada ao longo de vários anos, é o ambiente propício para focos de incêndios. É uma característica do Pantanal que dificulta o combate aos incêndios, daí surge o fogo de turfa ou “fogo subterrâneo”, que queima sem que as pessoas percebam, nas camadas mais profundas de toda essa matéria orgânica”, explica Gustavo Figueirôa.
A diretora de Proteção Ambiental do Corpo de Bombeiros, Tatiana Inoue, explica que o solo de turfa no Pantanal é como se fosse um sanduíche, em meio as estações foram sendo criadas camadas, uma de terra, outra de vegetação, outra de terra, e assim repetitivamente ao longo dos anos.
E quando o bioma sofre com as chamas, o fogo pode atingir uma dessas camadas mais profundas e se espalhar até encontrar alguma fissura e uma vegetação mais seca para emergir.
“Determinadas regiões com o solo de turfa, quando está seco, criam bolsões de ar dentro do solo, perfeito para o fogo de turfa que é mais comum quando não há chuva em abundância. E ele pode durar por semanas, até meses”, explica.
Mas como descobrir o fogo de turfa? De acordo com o Corpo de Bombeiros de Mato Grosso do Sul é possível identificar o incêndio por meio de fumaça e até pela temperatura do solo.
“A gente não consegue ver as chamas, pois se trata de um incêndio subterrâneo, mas em alguns casos é possível ver a fumaça da matéria orgânica que está queimando e a temperatura do solo, é muito quente, não dá para aproximar as mãos do solo, muitos animais são surpreendidos com essa temperatura”.